segunda-feira, 29 de março de 2010

REQUIÉM DA MNHA INFÂNCIA

Amigos

Nasci e vivi por 13 anos, à Rua Barão de Parnaíba, em frente a antiga Maternidade de Campinas.
Não sei porque cargas d'agua, Dona Tatinha (minha mãe), resolveu me colocar no mundo na Maternidade Nova na Av. Orozimbo Maia, se ela simplesmente poderia ter caminhado por cerca de 15 metros para parir-me. Afinal morávamos em frente a antiga Maternidade. Enfim, coisas inexplicáveis.
Quando me dei por conta, a Maternidade antiga fora demolida e o que restou do terreno, foi cercado por tapumes, o qual ficara assim por alguns anos. Brincávamos na rua, praticamente deserta até altas horas da noite. Naquele tempo as ruas do bairro Botafogo eram tranquilas, todos os vizinhos se conheciam. O único perigo era a Cadeia Pública, que ficava na avenida Andrade Neves (1º distrito Policial). Lembro-me até hoje a caminho da escola, eu parava na frente da cadeia para ver os presos pelas pequenas janelas gradeadas da cadeia. Na quadra em que morávamos, que por sinal era a última da Rua Barão de Parnaíba, tinha além do terreno onde seria erguida a Nova Rodoviária, uma fábrica de beneficiamento de algodão, e ao fundo a Medeireira dos Irmãos Gouveia, além da banca de jornais do Seu Chiquinho quase na esquina da Barão de Itapura.
Morávamos em um sobrado, da janela da sala e do quarto dos meus pais, acompanhei com entusiasmo, cada tijolo, cada caminhão de areia que era descarregado para a construção da Nova Rodoviária. Conhecia quase todas, todas mesmo, as Betoneiras de concreto usinado da Lix da Cunha, elas eram numeradas B4, B6, B8 e assim por diante. Mas a que eu mais gostava mesmo era a B12. Betoneira novinha em folha, lembro-me até da cara do motorista, um narigudão por sinal. Aos poucos a Nova Rodoviária ia tomando corpo, formato.... estava ficando linda... Era a mais moderna, com suas plataformas de embarque e desembarque de passageiros no sub-solo. Lembro-me do dia da inauguração. Foi uma festa e assistimos todos da família, empuleirados nas janelas da sala, do quarto e no jardim da casa de baixo (Casa do Tio Manéco, meu Tio Avô). Teve até banda, corte de faixa inaugural... ela era bonita mesmo. Em seu interior, tinha as lanchonetes, bomboniére, lojas de bolachas, farmácia, livraria, banca de jornais e até fliperama!
Costumávamos brincar dentro da Rodoviária eu, meu irmão Luizinho e minha irmã Paula. O gerente da Rodoviária até nos conhecia. Os carregadores de malas com seus quépes marrons, os motoristas da Viação Cometa e Viação Caprioli, com seus quépes azuis e os motoristas da Viação Bonavita com os seus amarelos e na parte da frente os ônibus urbanos da CCTC - Companhia Campineira de Transportes Coletivos (que carinhosamente chamávamos de CCTC, carrega cachorro e transporta cavalo). Então vieram os táxis. Eram dois pontos, um em frente a nossa casa e o outro na avenida Andrade Neves, que era os fundos da Rodoviária. Conhecíamos todos. Lembro-me em uma passagem de ano, que saímos para a frente da nossa casa, para cumprimentar os motoristas de Táxi e os passageiros que desembarcavam na Rodoviária. Era muito legal mesmo. Coisa muito normal para aquela época, acho que em 68, 69 e 70. Depois veio o progresso chegando... O comércio se instalando, bares, lojas de bolsas, mais bares... as pensões no entorno da Nova Rodoviária foram crescendo e passando a se chamar Hotéis. A avenida Barão de Itapura foi prolongada... O fluxo de veículos foi aumentando, a circulação de pessoas vertiginosamente aumentando.... Enquanto tudo ia aumentando ao mesmo tempo aquela identidade de bairro foi se perdendo... Os vizinhos mudando... as crianças sumindo... os colegas das escolas Orozimbo Maia e Culto à Ciência também. As praças em que jogávamos futebol com bola de meia foram sendo invadidas por mendigos e a degradação crescendo, até que aos 13 anos de idade, também mudamos.
Passei a acompanhar meio distante essa evolução no tempo. Triste a deterioração de uma região. Ai que saudades. Hoje (29/03) chego em meu trabalho e acesso a internet no Portal da RAC e vejo os vídeos da implosão da “minha rodoviária”. A rodoviária da minha cidade, a rodovíaria da minha família, a rodoviária da minha infância...
Triste requiém......

Um comentário:

Paula disse...

Pois é, meu irmão!!! Ao ler, fui invadida de uma imensa saudade, voltei literalmente no tempo, tempo esse que não volta mais.
Cada palavra que lia, uma lágrima brotava dos olhos, a Tatinha é testemunha rsrsr mas valeu!!
Recordando...vivi!
Parabéns!!!
Beijos
Paula