sexta-feira, 29 de outubro de 2010

O Legado que Lula deixa para o futuro deste país.

Caros amigos

Este textasso, foi extraído do blog NÃO PASSARÃO! de Carlos Andreazza - RJ.


“Faltando dois meses para terminar oito anos de mandato, a pesquisa me dá com 84% de bom e ótimo e apenas 3% de ruim e péssimo. Esses 3% devem ser do comitê de alguém, não pode ser da rua”.
A fala acima é do presidente da República.

O que dizer?

São só três linhas e, no entanto, está tudo ali; todos esses [quase] oito anos: ao mesmo tempo, a dissolução das fronteiras entre o público e o privado, o personalismo exacerbado, o rebaixamento dos valores republicanos e a criminalização de um componente imprescindível à democracia; qual seja, o contraditório, o direito à oposição.

Admito, porém, um certo cansaço - misto de perplexidade e desânimo. Há quanto tempo escrevo sobre isso? Afinal, para quem falo? A quem me dirijo? Para quê? Lula não está sozinho na maneira torpe - imperial - como compreende a própria popularidade. São as pessoas - as gentes do Brasil - que o fazem acreditar em que tudo pode; em que os altos índices de aprovação popular o autorizam a desafiar as regras por meio das quais se elegeu e com as quais governou; em que a suprema popularidade o invista da imunidade absoluta para testar e, logo, ultrapassar os limites da moralidade na administração pública e da democracia, a qual, bondoso, entende como uma espécie de concessão [de favor] que nos faz. A voz das ruas nunca esteve tão na moda...

(Anteontem mesmo, no Supremo, sob a forma de um puxadinho constitucional, deu-se eficácia à Lei Ficha Limpa em clara resposta às expectativas do povo e, pois, de forma francamente casuística, em grave afronta à Constituição Federal. Uma barbaridade!; assim como sempre será quando se relativizar um direito individual fundamental da estatura da segurança jurídica. A história nos mostra fartamente: a busca por atender, à revelia das leis, os anseios da sociedade - de uma maioria sem face - sempre acaba em decapitação...)

Será excessivo lembrar que o presidente da República governa também para os 3% que o avaliam mal? Será excessivo lembrar que o presidente da República tem a obrigação institucional de prezar pela divergência e qualificar como legítima a opinião de quem o critica? Será excessivo exigir que o presidente da República - mesmo quando sobre um palanque partidário [mesmo que eternamente sobre um palanque partidário] - movimente-se sempre com o fito de unir, de integrar, de aproximar os cidadãos brasileiros? Será excessivo exigir-lhe - simplesmente! - que respeite as leis do país? Será excessivo cobrar que o presidente da República - num momento de crise, de acirramento, de definição eleitoral - aja com serenidade e equilíbrio? Será excessivo cobrar-lhe que não se venda por chefe da nação - por grande brasileiro! - na hora em que invade a minha casa para fraudar a história do Brasil e refundar-lhe os marcos?

Que estadista é este que mente, mistifica e nega o passado de um grande país? Que estadista é este que ignora o trabalho daqueles que o antecederam e que, tanto quanto ele, ajudaram a construir o Brasil? Que estadista é este, que define por prioridade - para um ano inteiro de seu governo! - a eleição de um sucessor e, pois, a continuidade de um projeto de poder partidário? Que estadista é este, que tanto mais cresce quanto mais divide a nação?

Tenho lido, com frequência, a palavra "ódio" associada a esta campanha eleitoral. E é Lula, hoje, o principal fiador - o grande propulsor - deste sentimento. (E isso é especialmente imoral porque ele foi - ele, Lula - vítima da mesma disseminação infame do ódio; ou já teremos nos esquecido do que o ora aliado Fernando Collor lhe fez em 1989)? Um presidente da República simplesmente não pode conjugar o verbo "extirpar". Não pode. Lula não só o conjugou como o aplicou a um partido político. Calculemos! Que peso multiplicador terá o discurso do presidente da República - que é sempre presidente da República e acima de tudo presidente da República - sobre as pessoas que lhe cultivam admiração incondicional e reverência quase cega? De que jeito será recebido o recado de Lula quando se dirige ao candidato de oposição como "este sujeito"? Sob quantos riscos irá a democracia [a liberdade!] se a minha opinião - que não serve a comitê algum, senão à minha consciência - é claramente desqualificada [marginalizada] pelo supremo magistrado da nação? (O que devo, portanto, esperar de um militante petista)? O que vai oculto numa declaração que retira das ruas [para onde nos levam?] aqueles que, incômodos, têm restrições ao governo? Serei eu, oposicionista convicto, menos brasileiro? Porque é esta a mensagem de Lula, de resto baseada numa compreensão tosca - francamente segregacionista - da sociedade: quem se lhe opõe é "do contra", das elites!, e o faz por interesses vis etc. Canalhice pura. Coisa de vigarista. Algo que devemos repudiar; ou, daqui a pouco, teremos de nos conformar a um Ministério da Igualdade Oposicionista, destinado a fomentar cotas [3%?] para o exercício do contraditório...

Não há avanço social que justifique tamanho rebaixamento democrático. Não há aumento de poder aquisitivo que justifique uma tal despolitização da sociedade. Não há acesso ao crédito que justifique a criminalização do adversário, logo transformado em inimigo e, pois, em objeto de extermínio. Ou o Brasil cresce fortalecendo os valores democráticos; ou terá sido em vão.

O supremo emprego que importa - incondicionalmente - é o da democracia.

Sinto muito; mas Lula é responsável inclusive pela maneira agressiva, frequentemente preconceituosa, sempre vergonhosa, com que as pessoas se lhe referem. Foi ele - o presidente da República, o dono da bola! - quem estabeleceu a linguagem boleira e vulgar que hoje pauta quase todas as discussões eleitorais. Foi ele quem nos impôs o modo de expressão que, em busca do povo!, fundamenta-se no confronto, no "nós contra eles", na cisão social do país. Foi ele - o presidente da República - quem deu o tom de baixaria que caracteriza a campanha em curso e que, lamento, tão cedo não se dissipará. O Brasil está dividido e dividido estará nos próximos anos, seja lá quem for o presidente, José Serra ou Dilma Rousseff. Um retrocesso. Este é o legado de Lula. Impossível chamá-lo de estadista.

Até!

Um comentário:

Renata disse...

Saber de nossa impotência é muito constrangedor nesse momento.
Que Deus tenha misericórdia de nós!